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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Você decide!!

Você decide!

E lá se foi a noite, e a manhã me encontrou desperto, aguardando...

Aguardando...Ancioso, inquieto, pernas tremendo mais que a bandeira no mastro da Fiergs em dia de vendaval.Mas nada acontecia. Tudo, tudo parecia tão quieto, mas só parecia, algo era tramado por trás da minha espera.Tudo parecia normal. Será que havia algo errado?
Sentei-me à mesa do café sem fome. Mesmo assim, trinchei uma torrada, tomei um gole de café com leite, subi, escovei os dentes,ao meu lado circulava triunfante com pose de vitoriosa no bigbrother, a gostosa da cozinheira, aquilo é mulher onde o título de gostosa é pouco, é insignificante, não faz juz, sim, ela passa por cima de todos os títulos que conheço, diria que é algo babante, um desbunde de fazer paralizar a geral do Grêmio ou Inter em dia de clássico, já me preparava para sair, quando, enfim, ouvi o que tanto queria ouvir:

- Minhas jóóóóóóóiaaaaas! Óh meu Deussssss, minha jóiassssssssssssss

A voz roufenha de dona Mirtes fez a mansão estremecer, estátua, paralizamos, mas recorremos às forças que Papai do Céu nos deu e aí. Corremos todos escada acima e a encontramos no chão do quarto, a porta do roupeiro aberta e a caixa de jóias vazia rojada no carpete. Dona Mirtes soluçava, de algum modo praguejava, mas em especial soluçava:

- Roubaram tudo! Tudo! As jóias da minha família!!!

Era mamãe pra cá e Mirtes pra lá e calma e calma e traz um copo d´água com açúcar e chama a polícia e que absurdo meu Deus! Tem algum ladrão aqui? Será que saiu, prendam-o, prendam-o!! Em alguns minutos, a polícia chegou com estardalhaço.Sirenes a toda, revólveres nas mãos e o pior, engatilhados, sim, pois engatilhado, significa pronto pra agir, para matar, levar pro quinto dos infernos, pros sete palmos de fundura, pro sujeito comer capim pela raíz, olhei aquilo, quiz fazer de conta que nada tinha visto, mas...Tremi, tremi ainda mais, não sei porque, sequer explicar, mas tremi feito marmelo verde, feito menino mijado antes de dar explicação, mas já vendo o chinelo, imaginando o peso e calculando o tamanho daquela sola, chegou o momento em que, Todos fomos ouvidos. Tentei ser racional em meu relato. Disse que suspeitava dos homens que me haviam assaltado, pouco tempo antes, numa esquina ali da pensão, falei daqueles homens fortes, grandalhões, até mostrei uma marca de mordida no meu cangote, sabendo que bastava olhar os dentinhos da cozinheira pra ver que era marca registrada dela, mas que fazer na hora derradeira, sei lá se eles iam atinar a olhar os dentes da cozinheira, mas também quem consegue olhar seus dentes tendo aquele corpo, aquela moldura, aquela boca pra olhar, o sujeito pasma.E eles me ouviram com severidade. Perto do meio-dia, consegui ir para o escritório. Então, fiz o que tinha de fazer: levei as jóias ao agiota, paguei a dívida e ainda consegui mais algum para repor o desfalque no caixa da empresa. Sei que ele saiu ganhando,nesta situação eles aproveitam para explorar um pobre coitado, uma pobre e desesperada vitima de extorção e da força maquiavélica das mulheresas, ah mulheres, ah mulheres, sempre elas o que fazem comigo, elas teem o poder, a forma inimaginável quando estão diante deste pobre mortal, mas que sei usar quando são gostosas isto sei, o pior é que no final, elas sempre elas saem ganhando, as jóias valiam muito mais do que eu devia, mas não estava em condições de negociar, de regatear qualquer coisa naquele mísero momento.

Quando voltei para casa, soube da notícia: Laércio havia sido preso, os homens o levaram para o xilindró, ia ver o sol nascer quadrado. Descobriram o colar ( a parte dele), em sua gaveta e o levaram algemado. Chantagista desgraçado. Ele bem que mereceu!

Portanto, minha situação ficou assim: continuei com meu casamento e com meu emprego,preservei minha esposa e salvei a dignidade de um homem de bem, todos pediam a minha opinião sobre o fato, perguntavam o que eu achava de tamanha violência contra o patrimônio alheio, se tinha pistas, coisas assim deste tipo, continuei morando onde morava e com as perspectivas profissionais que tinha antes de todas essas aventuras. A cunhada? Bem, essa eu não sabia se teria de novo, a cunhada, tão perto e tão insabida propriedade, uma cunhada igual a minha, companheiro, faz fiel escudeiro tremer na base, faz guardião da Pátria ter duvidas sobre se abandona um pouquinho a guarda ou não, ah minha doce cunhada Será que ela seria fiel ao grandalhão, aquela babaca, aquele cegueta? Duvido. Mas será que continuaria se interessando em mim? Um mistério.

A cozinheira? Dessa vou falar em seguida.

O fato é que cometi adultério com duas mulheres diferentes, sendo uma delas minha cunhada e a outra a cozinheira da casa em que morava,cozinheira, não, monumento histórico nacional, obra digna de tombamento pela beleza escultural da humanidade, tudo isto justifica meu desequilibrio, meu ato inseguro, meu atentado violento ao pudor familiar, justifica minha quebra de regra, minha ruptura com as estruturas sociais do bom comportamento, aquela não é mulher, é coisa fatal de outro mundo, mas... roubei, fui autor de um desfalque na empresa em que trabalho, enganei a todos e coloquei um homem inocente na cadeia. Admito: fiz tudo isso. Mas, considerando as circunstâncias, fiz errado? Como você agiria, se por caso pintasse uma chance desta grandiosidade?

Diga-me você: você resistiria à cunhada sedutora? Não? E, se não resistisse e fosse pego, como fui pelo mordomo,ali, sem chance de gritar, de ameaçar, de pedir socorro, calça em baixo, aquilo naquilo, bunda na janela, praticaria desfalque para pagar a chantagem? E, se o plano de lucrar com o desfalque falhasse, roubaria para se safar? Incriminaria um homem inocente, ainda que esse homem tivesse tentado lhe chantagear? Você faria isso tudo? Seja meu juiz! Estou esperando serenamente seu veredicto. Aguardo seu comentário.

Talvez você desaprove que eu, tantas vezes pecador, tenha saído de todas essas aventuras e desventuras sem punição. Pois garanto: não foi exatamente isso que ocorreu. Porque um dia depois da prisão de Laércio, ela veio me procurar.

Ela. Soninha.

A cozinheira.

Fez um sinal para que eu saísse da sala em que lia a última Ele e Ela, com a Sândi nua na capa. Segui-a até um dos banheiros da casa, como aquela casa tinha banheiros, Jesus Cristo! Foi então que Soninha miou com sua vozinha de arroz-com-leite, ela ronronou com aquele tipico miado de gatinha manhosa, ela tripudiou com minha resistência, ela veio suavemente e nocauteou-me, jogou-me às cordas e ainda pisou-me no pescoço na lona.

- Seu Rildo, eu queria lhe falar sobre tudo o que aconteceu...

Senti o peito se me oprimir.- Tudo o quê? Mas, como, tuuuuudo?

- Tudo: o que houve entre nós, a prisão do Laércio, as jóias roubadas, aquela tarde...

Comecei a compreender o que ia acontecer. Estava nas mãos da cozinheira. Ela podia me chantagear de diversas formas: podia contar que a possuí, podia contar do roubo das jóias, podia me desgraçar definitivamente. Finalmente ela podia tudo e eu? Tudo precisava fazer para que ela não passasse a ser uma ex amiga, uma ex amante, já pensou no poder das ex? São enexplicáveis que o digam os homens de Brasília, eles sabem muito bem o quanto destrói uma ex bem intencionada. Suspirei.Levitei e desci ao plano chão.

- O que você quer, Soninha?

- O senhor mesmo disse que ia me dar uma boa recompensa...

- Quanto, Soninha? Quanto? - já estava me acostumando a lidar com chantagistas, seria apenas mais uma...

- Bom... Acho que tudo ia ficar bem com uns duzentos mil...

- Duzentos mil?!?! Duzentos mil, Soninha?!?!?!!!! Tá delirando, viajou na mioneze, desce Soninha, pensa bem, duzentões!!

Olhei para ela. Seus lábios carnudos sorriam levemente. Debochadamente. Seus grandes olhos castanhos coruscavam de satisfação, suas pernas lisas e macias batiam uma na outra a me provocar e quando em vez, cruzavam deliciosamente uma por sobre a outra e Soninha, balançava maldosamente aquele corpo que um dia foi meu, ali, bem ali naquele maldito ou bendito (sei lá) banheiro amarelinho, de leve, bem de leve mordiscava aqueles lábios molhados, que um dia suguei com toda minha vivacidade, passava delicadamente sua língua aveludada só para me provocar, para tontear a vitima antes do golpe fatal, para paralizar a pobre refeição antes do ataque fulminante e destruidor.. Ela sabia que eu não tinha saída. Sabia que havia me derrotado. Fechei os olhos. Abri-os. Olhei para cima. Para o teto do banheiro. Para o firmamento. E pensei, em desespero: o que fiz de errado para merecer tanto sofrimento? Me diga: o quê???


P/pequenos contos de Paquetá. RJ

Por: WBcastanheira

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