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sexta-feira, 1 de maio de 2009

A beleza do batom, daquele dia.

Seria mais um dia de trabalho, tranquilo, em paz, e foi em paz, ao chegar as coisas pareciam normais, e estavam normais, numa grande repartição o entra e sai de pessoas é normal, dia agitado, mas, normal. Um sol muito bonito despontava ao leste do oceano Atlântico, pequenas garças revoavam no horizonte, logo ali mergulhões e pequenos pássaros disputavam pequenos peixes, pescadores tentavam de algum modo conseguir sua cota diária de peixes, alguns cachorros magros completavam a cena bucólica do pequeno quadro, pessoas entravam apressadas, mostravam seus pertences ou não, finalmente nunca entendi quando alguém e porque alguns os mostram e outros não, ao passar por ela, sim ao passar por ela, não passei, parei, congelei, sabe aquela brincadeira, estátua? Estatuei, não consegui segurar minha adimiração pela beleza do seu corpo e pela encantadora e tentadora boca, ornada por um batom de uma cor carmim inigualável, seus lábios voltaram-se aos meus olhos propositalmente molhados, umedecidos, escandalosamente provocantes, paralizei, tonteei, fiquei ali embasbacado, se o corpo, os olhos, os cabelos já me fazem parar, o que dizer daquela boca molhada, entreaberta, o que dizer do suave lamber daquela língua parecendo aveludada e macia, saindo e entrando suvemente com movimentos delicados extasiantes, atraentes, provocantemente sexuais, naquele dia, não consegui trabalhar direito, as coisas não fluiam, a cabeça não via os conteúdos, as mãos não seguiam o compasso normal de um comando, como dizer então que o dia era normal?As pessoas seguiam como todos os mortais, como todos os viventes a cumprir suas missões, mas eu, não conseguia, seu batom, aquela boca maravilhosa, não me deixou parar quieto, por várias veses voltamos a conversar, mas dialogos cortados, conversas fragmentadas, por telefonemas, perguntas, visitas, um clima completamente oposto àquele que eu desejava para nós dois, voltava ao escritório, o telefone toca, alguém por mais importante que fosse, em nada conseguia mover minha intenção de bem atender, minha cabeça, meu pensar, meu todo estava naquela boca, naquele batom, carmim suave, delicado, num tom muito próximo do irresistível, não parei de pensar naquela boca molhada e tentadora, estava diferente de outros dias, de outros momentos, tentamos conversar um pouco, não me contive e elogiei de modo profundamente apaixonado, seu batom, -que linda esta cor de batom. _Ah, nem notei, só procurei um diferente, tu gostou éh?
Se gostei? Apaixonei, tu não imagina o quanto ficastes diferente e ainda mais linda.
-Ah, são teus olhos, tô sempre igual
-Pra mim não, cada dia te vejo de um modo diferente e idealizo de um modo diferente.
-Então, hoje como tú me vê?
-Ah, linda, este batom tá demais, fico tonto, te vejo com um vestido amarelinho, de alcinha no ombro, assim, com as costas nuas e um decote, delicado, alinhado, viu? Nada de mostrar tudo, um vestido até o joelho, não, um pouquinho acima e um sapato preto com uma meinha branca com detalhes amarelos, curtinha.
-Noooossa, pra ti vou ficar uma mulher amarela
-Ué, vai ficar ainda mais linda...
O malvado do telefone toca, mais uma interrupção na minha trajetória de investimento, mais um diálogo fragmentado, como escolher a hora exata de dizer, te amo? Te amo precisa ter momento certo, clima ideal, preparação, muita preparação, se na hora exata em que eu disser,- sabe que eu te amo muito; toca o telefone, chega alguém, quer maior motivo pra ela escapar pela tangente, saiar de fininho, depóis se fazer de esquecida, e ter que recomeçar toda a liturgia do, eu te amo e o meu tiro, mirado, apontado, preparado, sair pela culatra? não poderia ser ali, naquele local o lugar de eu dizer o esperado, eu te amo, era preciso aguardar, ter calma, muita paciência, centralizar, agendar um momento para tal evento acontecer.
Pensando bem, tú já pensou, já arquitetou um lance desses? Já sentiu correr no sangue, fluir nas veias, o momento de um, eu te amo? É muito forte, é como cobrar um penalti em jogo de zero a zero, aos 45 minutos do segundo tempo, tudo pode ser decidido naquele lance, tudo pode depender do teu equilíbrio, da tua segurança, naquele momento que pode ser de glória, de vitória pro resto da vida ou pode transformar-se num momento fatídico, lamentável, dificil de esquecer, não, com certeza um, eu te amo, não pode ser dito numa esquina qualquer, numa porta de fábrica, numa mesa de escritório, ao lado de um telefone, nem pensar, telefones são os maiores adversários do, eu te amo, aliás telefones jamais deveriam estar próximos de pessoas que pretendem dizer um, eu te amo, numa portaria de empresa, como dizer, eu te amo? Juro, tu não consegue, bem, dizer até que dá, mas dar o tratamento, o pós eu te amo, e este pós é tão importante quanto o exato momento do, eu te amo, aí é que reside o nó da histórinha, imagina eu nesta situação, aquele batom maravilhoso, aquela boca estonteante, aquele corpo de boneca Suzi e eu ali, pronto, ensaia do para dar a ela toda a chance de dizer-me, - eu também, te amo, quanto tempo esperei por isso.
Mas entra peão, sai peão, toca telefone, entra carro, sai carro, e eu ali com o meu, eu te amo, engasgado, trancafiado, cabeça abaixa, passos lentos, olhar distante, vago, perdido na imensidão do oceano que desponta, a olhar sem pressa os barcos que entram, os barcos que saem, lá vou eu, novamente pra aquele escritório, aquele computador, fazer não sei o quê, se nada do que é meu atende meu comando, se estou perdido por aquele batom.
Num outro dia a vagar pela praia, dia de sol, folga geral, sem jogo do Grêmio, sem arquibancada, lá ando eu a vagar pelas ruas quase desertas de uma cidade abandonada, alguns namorados desfilam abraçados, quanto batom desperdiçado, eu, ali, alimentando meu sonho, vivendo meus delírios, a praia calma, transparente, o mar delicadamente sobe e desce a margem, molhando meus pés desnudos a caminhar por uma manhã qualquer, eis que toca o telefone, ah, o telefone maravilhoso companheiro dos solitários, ah, o telefone o único que naquele momento pederia me fazer uma boa companhia e dar-me notícias, -Alô, bom dia, quem fala?
-Eu
-Eu, quem será a dona desta vóz tão macia?
-Não conheces, arrisca
-Garanto que é a dona de um batom lindo, que talvez hoje esteja usando um vestido amerelo de alcinhas?
-Errou, é verde, adorei, meu predileto, comprei pra nós
Tremi, aquele pra nós, soou como trombeta em quartel de bombeiros em prontidão, como o toque do clarim anunciando a alvorada da tropa, não sei se gelei ou queimei, mas com certeza estremecí.
-Pra nós?
-Claro, lembra de ontem, a gente combinou de sair hoje, ah, não vai dizer que esqueceste?
Juro, quase fiz um charminho, mas nós, homens, temos medo da fazer isto, elas adoram, sei lá talvez seja insegurança.
Claro que não, né? Tô aqui andando na praia te esperando
-Tá tchau
E desligou, e agora, pensei eu, ela não disse onde estava.
Mas par minha surpresa estava ali, pertinho, quase atrás de mim, quase no meu calcanhar, quando tentei virar tive meus olhos cobertos por duas mãos longas, com dedos delicadamente finos e longuineos.
-Adivinha quem é, e ganha um beijinho, erra e não ganha nada
-A dona do batom mais lindo que já ví e agora quero conhecer o sabor
Voltei-me e ela enlaçou-me no enlace mais profundo e mais forte que já experimentei, ficamos ali, entre beijos e abraços, o tempo passou e não notamos, sei lá porque, não notamos as pessoas, não notamos a beleza da praia, o contraste maravilhoso de uma manhã de sol brilhante, num dia de sol as coisas mais importantes da nossa vida aconteceram, estaria ela com aquele batom? Não sei, quando olhei extaziado o contraste do verde do mar com o verde dos seus olhos, ví apenas a linda cor natural da sua boca, seu vestido verde seria menos bonito que o sonhado amarelo com alcinhas? Não sei quando tentei olhar a beleza do seu vestido, fui novamente envolvido por abraço e um beijo tão apaixonado que até hoje ainda não me permitiu acordar.

Por: WBcastanheira
Numa tarde em que a inspiração veio vizitar-me, foi possível cumprir uma promessa feita a mim mesmo, obrigado Anjos que descem e sobem ,aos poetas cabe apenas segurar suas asas.

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