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sexta-feira, 10 de abril de 2009

UM HOMEM, UM TREM

UM HOMEM, UM TREM.

Um passeio simples, algo parecia repetir-se uma vez que seria o mesmo trem e até possivelmente o mesmo vagão, mas algo poderia ser deferente bastava apenas ela estar presente também fisicamente uma vez que estava na mente e no coração, estava nos sonhos e comigo empreende uma viagem diária, no ônibus, no carro, no trabalho e porque no trem havia de ser especial, sei lá, nossa infância estava encravada nos bancos e no espaço, nosso primeiro olhar, um beijo roubado e outros tantos doados, aquele amasso mais demorado estava ali tão perto, tão junto, que dava mesmo para sentir o seu calor, o seu cheiro, um aroma suave e a viagem continua e o trem parecia o mesmo ou seria o mesmo?Quem sou eu para saber as diferenças físicas se o abstrato, o mundo da imaginação, falava tão perto.
Um homem, um tempo, um mundo imaginário, um pensamento de saudade que poderia realizar-se por conta do destino, pobre destino encarregado de me fazer feliz, deixei tudo por conta dele, porque não forçar este encontro? Porque não buscar esta pessoa? Sei lá talvez por falta de capacidade ou iniciativa, mas... Ela está presente em todos os momentos para que buscar ser mais feliz que isto?? Um trem, um homem.
A paisagem parece igual, mas... Já não tem flores e os campos são os mesmos apesar da falta do verde até as árvores parecem um pouco escuras, passageiros contam piadas, mas... Sem graça, até a música ambiente só é a mesma quando toca o Rei Roberto voltam-me a paz do seu sorriso, os caracóis do seu cabelo e até são os mesmos os botões da sua blusa, viajo no tempo e busco com meus pensamentos um lugar além do horizonte bonito e tranqüilo p’ra gente se amar, um homem, um trem, falta a sua presença, a sua volta e a viagem continua, mas permanece em sonhos, em delírios, n’uma mistura de coisas que podem parecer banais apesar de me fazer um homem feliz no seu tempo e na sua viagem.
Mas... Por onde andará a dona deste sonho, deste delírio? Passados os anos. Quem sabe com suas mãos mágicas, e como eram magiicas fizeram carinhos que jamais outras souberam fazê-lo, andaram por caminhos, descobriram sentimentos, marcaram de forma indelével este peito, este homem, este trem, como fazer voltar o tempo? Não é possível, mas por enquanto sonhar e sonhar ainda basta-me, onde andarão aquelas mãos, aquele beijo, aquele aroma?
As pessoas passam por mim, de uma forma ou de outra as reconheço no tempo e no espaço, preciso de ar, de um modo diferente para voltar a ser gente, sorrir, viver, ser homem e ver este transporte como simplesmente um trem, não buscar um vagão quase fantasma, uma imagem da viagem mais colorida e finalmente viver, mas... Ela está presente de forma e em forma, em todos os espaços, seu aroma, seus cabelos como seria bom voltar a viver, voltar a amar, hoje pagaria muito para não tê-la conhecido, por outro lado sinto ter compensado experimentar este sentimento profundo, completo, devorador do homem e do trem .
Um homem, um trem e porque não, uma viagem feliz em outro tempo, férias, viagem com a família, trem lotado, já não procuro aquele vagão, a mulher escolhe, as crianças decidem e eu acompanho, estou absorto na busca de ser feliz por algum momento, alguns dias, quem sabe horas, bastam-me férias, para que buscar sentimentos, lembranças, coisas do dia a dia do trabalho, preciso esquecer, ou seja viver, mas... Aquele trem, outro tem, aquele homem, outro homem, mas.. aquele sentimento no mesmo coração, finalmente crianças, pipoca, banco de madeira, o apito ahhh o apito era o mesmo, mas as crianças, a esposa, a viagem, outro destino férias que bom seria poder gozá-las sem voltar ao trem mas, crianças.... e lá estava eu, não havia música ambiente que bom menos um motivo para que eu volte a sonhar, mas quem disse que não quero sonhar?
Almoço, uma moça aparece tocando ao piano, as mãos alvas e os dedos esguios, cabelos encaracolados e a pele branca como um copo de leite no seu leito natural, a blusa rosa com botões aparentes brancos aos meus olhos que em tudo vêem sempre a mesma coisa, as crianças brincam, correm entre os mesmos bancos e a esposa cobra é claro um pouco mais de atenção mas é férias o trem era diferente até o almoço era servido aos passageiros seria eu um deles ou estaria ausente, agora até parecia com um deles muito embora ausente ,abstrato em tudo, a moça do piano por momentos é a minha doce namorada de infância, passaram os anos apenas as imagens ficaram, ela porém na minha idéia jamais saiu do trem e passou o tempo e sempre viajamos juntos mas é época de descanso estamos em férias, como o coração, o pensamento pode descansar quando ama tanto, quando busca sem férias mesmo o consciente não querendo? A viagem continua, as crianças, a esposa e a moça... fico no talvez, chego mais perto e guardo comigo o medo de descobrir, finalmente as crianças, a esposa uma vida tranqüila programada não pelo coração, muito mais pela lógica filhos, esposa, férias... chego mais próximo, a blusa, os botões, o aroma, o banco de madeira falta provar o beijo com certeza é o mesmo, mas aquele gostinho de infância p’ra que mudar deixa assim, finalmente segunda feira volto ao mesmo trem, o mesmo homem, o mesmo sonho... e o aroma...o banco....o beijo...
O mesmo homem, o mesmo trem.

Por: Wanderlen Borges Castanheira.
P/PRATA DA CASA 2005.

Meu primeiro conto premiado com um 5º lugar, que emoção, ainda admiro-o, ainda olho-o, dá uma vontade danada de readaptar, mas, fico só na vontade, conto é assim, tem alguns que cada vez que vc lê, vc mexe, mas este é virgem!!

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