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quinta-feira, 9 de abril de 2009

A DAMA DE BRINCOS

A DAMA E OS BRINCOS
Por: WB CASTANHEIRA.


A vida corria tranqüila, quase nada de realmente novo ou que pudesse impactar sentimentos ou provocar grandes frisons acontecera nos últimos meses ou quem sabe anos, sempre tenho a necessidade de experimentar sentimentos no limite, não gosto de andar no normal das coisas, um abraço precisa ser bem abraçado, um beijo bem beijado e um amor.... um amor, estou procurando um que verdadeiramente extrapole meu modo, meus limites de sentimentos. Eis que alguém me aparece não sei de onde, porquê ou para que fim, sei lá não perguntou quase nada, perguntas do tipo quantos anos tens, és casado ou solteiro, onde moras, qual a cor preferida, olhou a cor dos meus olhos porque n’um certo dia falei que não sabia a cor dos seus e recebi uma feliz resposta. –É, mas eu sei a cor dos seus, mas... Nascemos em tempos errados precisaríamos ajustar a cronologia temporal mesmo assim encontramos tempo para breves e loucos encontros, por vezes discretos com um simples carinho nos cabelos um estar presente já basta e como é bastante pra mim sentir apenas os seus cabelos e pensar... e pensar... e parar, encontrar-se para um happy hour, para um cinema, para um jantar, enviar flores, coisas assim tipo estou aqui se precisares é só me usar. Como ela é uma dama, alguém espetacularmente acima do que poderia eu imaginar, mesmo sonhando com grandes emoções, acima do meu nível social e profissional, precisava sonhar para acreditar, mas era alguém especial, uma dama que tomou conta dos meus sentimentos agora embaralhados e confusos, o happy hour tinha de ser num café, livre de pessoas com qualquer aura negativa (não me perguntem o que é isso); o cinema para ela poderia ser infantil (quanta afinidade com sentimentos leves e descomprometidos, uma ruptura com os valores que até ali eu não conhecia), o jantar não dispensava um restaurante que não fosse rústico, ou de atmosfera meio solitária, ou meio contracultura, sabe como é? (aqueles Indianos um pouco esotéricos e de um misticismo que realmente não entendo).
Depois desse prelúdio ela era mais óbvia, já estava no clima e apenas questionava e com seus olhos negros, um sorriso maroto, sabe daqueles em que se é capaz de contar os dentinhos, aonde vamos, no meu apartamento ou no seu? E lá nós fazíamos amor, amor que até hoje não sei se era amor, pois jamais a ouvi pronunciar esta palavra, não passava de te adoro, gosto muito de ti ou tu és meu grande amigo, apenas...
E então ela sumiu.
Onde anda?
Em primeiro lugar gastei o dedo discando o número do fixo e o celular sem resposta. Aí fui no edifício dela, mas dependendo do porteiro do turno, ela: a) saíra de férias; b) tinha ido visitar a mãe doente em Belô c) viajara para um Fórum Social de Cabul ou foi cuidar de um tio muito velhinho no Nordeste. Partia eu para a busca no trabalho, quem sabe, mas lá garantiram que ela pedira demissão por causa de uma proposta vinda de Belô.
Belô?
-É, fica em Minas, explica o guarda, com um olhar de piedade pra mim.
Fiquei deprimido, assim como um cãozinho abandonado e além de tudo rengo de uma perna com um pouco de sarna, entende o que é isso?
Por via das dúvidas, fiz o roteiro completo quase uma via sacra, pelos cafés, livres de auras negativas, de todos os filmes infantis ou mais inocentes que Branca de Neve, de todos os restaurantes rústicos e sombrios ou de atmosfera nostálgica, quem sabe a encontraria para ver aquele sorriso maroto e poder ver aqueles dentes alvos juntos aos seus olhos negros, acompanhados de uma aura angelical que só eu sei explicar.
Nem sinal, nada.
Passei vários meses na fossa, triste pois pensava muito nela, porque aquelas manias dela envolviam-me, sua roupa, seus delirantes vestidos, seu aroma, seus brincos... nunca a vi sem eles, porquê não os tirava, porque seus filmes, seus restaurantes e porque nunca dissera-me: -Eu te amo? Não sabe ela o quanto eu preciso do seu, eu te amo, porque se entregava vestida e de repente ia tirando tudo o que a ornava, menos os brincos, tipo comunicasse, os brincos eu só tiro no dia em que te amar de verdade, guardava aquele mistério, aquele trunfo.
Só que ninguém passa vários meses na fossa, enterrado em tanta tristeza.
Não sou um professor ou outro literário, mas inventei três seminários sobre Paleontologia, sabe aqueles programas para dormir sentado? Isto, pensou bem nem foram tão ruins em um deles até dormi com uma professora, precisava ficar com alguém que tirasse até os brincos, por fim publiquei um livro sobre a curiosa possibilidade da existência de um tiranossauro rex fossilizado no RS.
Foi na tarde de autógrafos que a vi no fim da fila, fila? Sei lá, havia alguns procurando por alguma coisa para ler, talvez quisessem experimentar ler um livro escrito sem qualquer propósito a não ser encontrar sua amada, mas... Ela se aproximava, dotada de seus olhos pretos, um cabelo loiro que escorria por entre os dedos e por fim um sorriso encantador que me deixava tonto, babando , vendo um, dois, muitos anjos n’uma só pessoa e .... finalmente seu vestido, (sim porque o vestido nasceu para a mulher, ajusta-se à beleza delas, as faz muito lindas com relativa facilidade, o coque não) linda como não poderia ser diferente, ela sabia como me torturar com o feitiço do vestido, tinha um jeito de falar com um sorriso aberto, um jeito meigo e safado ao mesmo tempo, mas e o seu olhar? Quando a olho me pergunto será assim que os anjos olham, tenho certeza que sim.
Dediquei e assinei o livro olhando sempre na beleza do conteúdo daquele vestido lindo, gostaria que começasse a tirar ali mesmo.
E nesse instante reparei apaixonado e esperançoso, ela voltara...
Desta vez, sem brincos.
Anjos usam brincos?

Pseudo: WB CASTANHEIRA
PETROS 2006

Este conto foi premiado no Concurso de Contos Petros, destinado aos funcionários ativos e aposentados da Petrobras.

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