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terça-feira, 14 de julho de 2009

Pensamento Cinza. Um carinho da: Minha Linda!!

Pensamento cinza

O primeiro pingo no telhado prenunciou o que estava por vir. Abriu um dos olhos que correu para o relógio que havia na cabeceira, o qual só confirmou aquilo que já sabia. Amanheceu. O aroma que vinha da cozinha era um tanto animador e talvez a única coisa que lhe instigasse a levantar.
Raul era daqueles que por vezes sentia-se deslocado e buscava motivos para levantar-se da cama de manhã e vestir aquela sua roupa de sempre, um Jens desbotado, um tanto encardido e aquela camisa que ganhara de sua mãe, pessoa esta tão zelosa e que o fazia flutuar com os aromas vindos da cozinha, que com sua alquimia culinária conquistava covardemente todos aqueles que cruzassem por ali.
Que manhã!! Chuvosa e cinza como os pensamentos que insistiam em povoar aquela cabeça, também cinza , devido aos seus gritantes cabelos grisalhos, os quais, lhe davam um ar de quem já havia passado por tudo na vida.
Que engano!! Quisera-o ter passado tudo nesta vida, mas Joana o impedira. Ah, doce Joana! Que por obséquio, por onde andara!
O cheiro que chegava da cozinha parecia que aumentava cada vez mais, e isso fez com que pulasse da cama, num ato instantâneo e impensado, e a chuva que caia ainda tímida fazia todo o diferencial naquela manhã.
Atos impensados eram do que estava precisando, pois passou pelo menos 30 anos de sua vida pensando e planejando a vida, calculando milimetricamente os passos, com direito até a plano B. Não, definitivamente não queria mais ter certeza das coisas, pois deu-se conta de que a única coisa de que temos certeza e de que não sabemos nada. Pelo menos deu-se conta a tempo, mas Joana não estava mais por perto, por onde andara Joana!
Uma carreira bem sucedida como engenheiro civil não foi o suficiente, não planejou o essencial, aquilo que carreira, poder, prestígio e nem grana trazem para a gente. Nossa, se engana aquele que pensa que traz!!
Os ovos mexidos que sua mãe preparou naquele momento era o que mais lhe importava, finalmente começou a viver de pequenos momentos. Ah Joana!! Quisera ele ter Joana ao seu lado agora! Essa era a sua frustração.
Carro zero km, com aquele cheirinho de novo, nossa!!Casa na praia, cobertura duplex com vista para o lindo Guaíba, pacote de férias para as belas praias do Nordeste. Tudo isso conquistas bem sucedidas devido sua tão bem planejada vida. Mas Joana sempre foi seu maior sonho de consumo, a sua bonequinha de luxo, sua musa inspiradora, seu grande amor.
A chuva despencou lá fora, e ficou a observar aqueles grossos pingos escorrerem pela vidraça, e por que os pensamentos não lhe davam uma trégua? Pensamentos cinza como o dia que se apresentava lá fora. Sua mente insistia em lhe torturar mostrando-lhe o único “pixel” colorido deste pensamento, os olhos verdes de Joana; Ah! E aqueles lindos, longos e loiros cabelos crespos, podia até sentir o perfume.
Nunca mais abriria a janela do seu quarto, num dia cinza, que teimavam em remeter-lhe lembranças de um dia cinza do passado, o dia em que ocorrera aquele terrível momento, que marcara sua vida como nenhum outro acontecimento. Raul e Joana não tiveram filhos, restou nada mais do que lembranças, remorsos e desgostos.
Aguardava somente um final de tarde, um notícia sequer, como num passe de mágica, da querida Joana que se fora depois daquele desgraçado dia cinza.Um telefonema dizendo-lhe: - Amor, estou chegando daqui a dez minutos! Ou uma leve batida na porta e lá estava ela, toda molhada da chuva, mas com um sorriso imensurável no rosto.
Onde está Joana? Pena que agora é tarde demais e nada mais do que breves momentos de prazer lhe davam sentido a vida.
Percebeu um pouco tarde demais que as partes constroem o todo, e não na ordem inversa. Não se vislumbra o “lá”, sem se perceber o aqui e o agora, sem deliciar-se durante o percurso.
Joana era daquelas mulheres de personalidade marcante, de olhar profundo, como se olhasse além da aparência externa, olhava por dentro, o que se passava com a alma. Isso fascinava Raul, pois ela era diferente das outras mulheres, ao menos ele a via assim. Ela possuía uma beleza exótica, não aquela beleza de capa de revista, aquele protótipo de mulher dos sonhos masculinos, mas ela era diferente, bela e incomparável. Sua beleza transcendia a aparência física. Pensavam em ter filhos, os dois fizeram inúmeros planos, como se a vida pudesse esperar...
A chuva persistia lá fora, e ele abriu o jornal na página do horóscopo, coisa que tempo atrás jamais fez, leu seu signo, franziu os olhos, como que não estivesse satisfeito ou talvez convencido com o que leu , folhou até a previsão do tempo, e após o beijo na face de sua mãe, levantou e dirigiu-se até a porta da rua, apanhou o guarda-chuva que estava atrás e foi. Com um olhar disperso, caminhou até o trabalho, observando coisas que antes lhe passavam despercebidas, mas aquele pensamento cinza o fazia companhia, como se para sempre, insistente atrás de um colorido que só Joana podia lhe trazer de volta.
Mas por obséquio, por onde anda Joana?

Por: Minha linda.
Uma amiga escritora, que nos momentos poéticos, divaga seus sonhos, seus anceios... derrama sua sensibilidade e abri às linhas, seu lado mulher.
Um bjo pra vc MINHA LINDA!!

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