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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Não pode tocar...Martha Medeiros.


Entro num museu, paro em frente a um quadro, a uma escultura, a uma cerâmica, e enxergo o aviso: não pode tocar. Não posso, então não toco, tudo bem. Não tocarei pra não estragar, pra não quebrar, pra durar por muitos séculos.
Nada de sentir a textura do material, nada de deixar minhas digitais impressas, nada de arranhar a tela com minhas unhas mal lixadas, de desgastar as cores com meus dedos imundos. Então a gente respeita, não chega muito perto, não atravessa a linha amarela, nada de macular a obra com nosso hálito quente e nosso olhar aproximado demais.
Assim é também entre homens e mulheres, entre pais e filhos, entre amigos que procuram se proteger: não se pode tocar em determinados assuntos, nem me fale nisto é melhor esquecer e a vida segue...
Há questões que arriscam ser maculadas com palavras, que um olhar aproximado demais poderia danificar. Instaura-se sempre um silêncio de museu ao nos aproximarmos de temas perigosos. Tolera-se apenas o som da tevê, de um teclado de computador, de alguém falando ao telefone, ruídos parecidos com silêncio, já que não fazem barulho excessivo, não incomodam o suficiente.
Palavras incomodam o suficiente, vamos falar sobre o que nos aconteceu dez anos atrás. Vamos conversar sobre a morte do seu pai, vamos tentar entender juntos a razão de você estar bebendo desse jeito ou quem sabe o porquê da sua separação ou sei lá o que houve que aquela relação que ia tão bem, acabou daquele jeito, hoje você nem fala nele, me diz o que te perturbou na infância. Não, não quero tocar neste assunto, deixa assim, melhor nem falar nisto.
Mantenha-se atrás da faixa amarela, não chegue muito perto, não acerque-se de meus traumas, não invada meus mistérios, não atrite-se com o meu passado, não tente entender nada: é proibido tocar no sagrado de cada um.
Por favor entenda minhas razões, se falo que nada aconteceu entre nós é porque nada aconteceu, se eu te falo que não gosto mais dele é justamente isto, não venha com seus estudos, seus cálculos, suas divagação, tens até o direito de não me crer, mas te roubo o direito de me obrigar a falar mais que falei, nada houve e nada há, ponto, se não for final voltarei a tentar te fazer entender que te falo a minha verdade ou deixa assim, é melhor nem falar nisto.
Todas as relações do mundo possuem sua prateleira de cristais. Há sempre um suspense, uma delicadeza ao transitar pela fragilidade do outro e há sempre nossa inquietude quase angustia em desejar saber do outro um pouco mais, parece que nunca a outra parte conta tudo, deixa sempre uma reserva e esta é a parte que mais nos provoca, instiga e de algum modo, mete medo...
Melhor não falar muito alto, é mais prudente ir devagar e com cuidado. Para não estragar, pra não quebrar, pra durar por muitos séculos, você acredita que eu te amo e o resto, ora bolas, o resto é apenas e tão só, resto...

POR: Wcastanheira  Recebi de uma pessoa amiga esta pérola e decidi partilhar, se é Martha já é meio sucesso garantido, Martha é iluminada no poema e no conto. Pra vcs bjinhos e bjinhos.

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