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sábado, 8 de setembro de 2012

Minha musa. Luiz Fernando Veríssimo.

Telefonei para a minha musa, a Rosinha. Para reclamar. Eu andava sem assunto, sem ideias, sem inspiração. A Rosinha claramente não estava fazendo seu trabalho. Não aparecia. Não mandava notícia. Minha ligação deu numa secretária eletrônica. Pode, musa com secretária eletrônica? Onde ela se enfiara? Estaria me traindo, inspirando outro? Deixei um recado: preciso de você, me ligue.
Nunca entendi bem esse negócio de musas. Elas vivem juntas? As antigas, as clássicas, convivem com as musas menores como a Rosinha, sem problemas? É difícil imaginar a musa do Virgílio, a musa do Tolstói – meu Deus, a musa do Shakespeare! – coabitando com musinhas novatas, a não ser que só se dirijam a elas para pedir o cafezinho. Ou as musas de outros tempos desaparecem junto com os artistas que inspiram, deixando o campo livre para musas contemporâneas? Mesmo assim, que possíveis assuntos poderiam ter a musa do, sei lá, García Márquez e a musa de um grafiteiro?
Finalmente consegui localizar a Rosinha, no seu celular.
– Alô, quem fala?
Eu disse o meu nome. E ela:
– Quem?
Demorou, mas a Rosinha acabou se lembrando de mim (“Ah, o cronista” disse, como se dissesse “Eu mereço”). Perguntou qual era o problema. Respondi que o problema era a falta de inspiração, e que este era o departamento dela. Ela: “Posso te ligar mais tarde?” Eu: “Não! Preciso de inspiração agora. Está quase na hora de mandar a coluna”. Ela, depois de um longo silêncio:
– Goiabada com queijo.
– O quê?
– Escreve sobre goiabada com queijo. O contraste de sabores e o que isto simboliza. A goiabada e o queijo são o policial simpático e o policial duro da gastronomia. A goiabada é expansiva e o queijo trava. A goiabada é doce e frívola, o queijo é circunspecto. Os dois provam que os opostos podem se entender, justamente porque são opostos. A goiabada com queijo...
Eu a interrompi:
– Tá bom, Rosinha. Chega. Vou escrever sobre musas.
– Nós agradecemos.
Luíz Fernando Verissimo (gaúcho)
 
POR: Wcastanheira    Hoje decidi postar esta matéria do meu conterrâneo LFVeríssimo, achei interessante sua definição sobre as musas, já dizia e muito bem, Quintana, _o q seria dos poetas não fora a  beleza singular q eles veem nas suas musas? Pra vcs musas ou não, bjos e bjos.

8 comentários:

  1. Veríssimo é uma otima e divertida referência. Ano passado tive a oportunidade de encenar textos dele no teatro.

    o que seria dos poetas sem as musas ??

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  2. Muito legal, gostei bastante, bem poético, Kkkkk'. Mas eu acho que não são só as musas que inspiram os poetas, isso é caso para se pensar. Abraços.

    R. Leroux

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  3. Adoro Veríssimo.Mas sempre vou falar dos "musos"
    que também inspiram as poetisas.
    Um beijo

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  4. Poxa, por que não acatou a sugestão da Rosinha?! rsr como boa mineira que sou, adoraria a cronica sobre Goaibada e queijo rsrsr Abraçosss

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  5. Boa noite...Passei aqui para te ler
    mas estava sem inspiração para comentar.
    Mas de repente, tive uma ideia, lembrei-me
    de um "Muso" e saiu isso: Menina de Vestido
    leve e amarelo. As alças levemente caidas dando
    a menina um ar sapeca. Sandalias de couro trançadas
    como tambem estavam trançados seus cabelos...A menina
    de vestido amarelo, tornou-se musa do poeta que escreve
    contos...O vestido amarelo, a sandalia, os cabelos trançados
    são meros acessórios para enfeitar a beleza natural da Menina
    que o poeta descreveu...Ai,ai! Adorei! Abraços carinhosos de
    Tia Si...:)

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  6. Uma semana cheia de
    muitas alegrias,
    beijos

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  7. Oi castanheira,

    Bem interessante e inspirador o texto de seu conterrâneo Veríssimo.
    Será que queijo com goiabada é agri doce!?
    Adoro queijo, sou pior que gato.
    Tenho de telefonar a alguma, mas do sexo masculino, pra me inspirar mais.

    Boa semana. Um mimo, plagiando você.
    Beijos da Luz.

    Luzes e Luares

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