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quinta-feira, 9 de abril de 2009

LOIRINHA SANDI

LOIRINHA SANDI
Por WBCASTANHEIRA

Falarei de Sândi, loucura da minha vida, tranqüila, pandorgas, quem um dia não brincou com pandorgas, papagaio ou pipa?Brincadeira inocente, até certo ponto, veja o que aconteceu comigo de forma indireta, mas com Sândi de forma agressiva. .Loirinha, sabe? Uma bonequinha, isso mesmo, olhos azuis, cabelos cacheadinhos, reluzentes à luz e tudo mais. Adorava as pernas de Sândi, longas e torneadas, fortes e brilhantes. Por Deus, a pele de Sândi brilhava e recendia como se tivesse sido besuntada com óleos aromáticos orientais, um misto de olhinho puxado com cruza germânica, sonho? Não, ela estava ali, pertinho, ao alcance, à mão, uma loirinha em carne e osso,Usava sainhas curtinhas e shorts mais curtinhos ainda, Sândi, aquela Sândi, um dia ela veio caminhando na minha direção com aquele jeito de loirinha, sabe como loirinhas caminham na nossa direção, parece um marcar passo, um, dois, requebra, um, dois, requebra e lá vem a gatinha. Pois bem, ela veio daquele jeito e usava um shortinho folgadinho ou era justinho? Sei lá cor de rosa bebê, nunca mais esqueci aquele cor de rosa, parecia um delírio, um desses sonhos em que a gente sonha, acorda, e quer dormir de novo, pra ver se consegue receber a graça de sonhar outra vez. Notei que bem no alto da coxa dela, bem ali, pertinho da bochechinha da nádega, havia um vergão de mais ou menos palmo e meio de comprimento, comentei, tive é claro de comentar: -Te arranhou, te machucou, tá doendo??
Ela, casualmente, com a maior voz de loirinha, sabe como são as vozes de loirinhas:
- Foi o fio da pandorga do meu primo que me arranhou. Está até alto, né? Quer passar a mão pra ver?
Jesus amado! Ela me convidou para passar a mão,ali,passar a mão numa região tão no alto, tão ao Norte que poderia ser considerada o Amapá da coxa esquerda dela, aquela coxa grossa e bem desenhada! Deu-me uma angústia. Mas uma angústia, uma tremedeira, uma tonteira, consegui balbuciar, trêmulo, assim quase desmaiando, acreditando que realmente Papai do céu é bonzinho.
Sério? M-M E-E-Esmo?
Ela como se não compreendesse a pergunta:
-Ué ? Sério, passa o dedo aqui pra tu ver como ficou alto, parece até inchado, passa o dedo, passa, só pra sentir como ficou.
Engoli em seco. Engasguei, tremi. Fechei o polegar, o dedo médio, o anular, ereto, teso. Fui esticando o braço. Esticando, esticando, rumo à coxa de Sândi. Aproximava-me devagar, centímetro por centímetro. Quando estava à distância de um palmo já sentia um calorzinho e o cheirinho de relva virgem, mata nativa, aquela coisa que nem se pode explicar, você é claro, entende, um violento tremor apossou-se do meu dedo, só o dedo tremia, mas tremia com uma paixão que poderia abalar-me todo o corpo. Fui aproximando, me aproximando. Sentia vontade de chorar, de sair correndo, mas não podia. Jamais me perdoaria, se fugisse naquele momento decisivo da minha vida. Finalmente, atingi a coxa, ahh, a cicatriz rósea impressa na coxa levemente dourada, aquela marquinha tipo alto relevo e eu ali pertinho, sentindo a pele de pêssego maduro, tocando e tocando, sentindo como deveria estar sofrendo a pobrezinha, por outro lado é claro, gritando, -viva as pandorgas do mundo o que elas são capazes de fazer por um pobre mortal. E meu dedo percorreu a extensão inteira daquela cicatriz, percorreu, gozosamente, esse mesmo dedo, incrível, podes crer este mesmo dedo que ora digita i, o, esse dedo que aperta campainhas, que chama táxis, que indica a número 1, que escarva cremes dos bolos, que discretamente vai ao nariz, que esmaga formigas na cozinha, esse dedo que proporcionou aquela antiga alegria, lá naquele tempo em que a gente só namorava na sala, mas é claro por vezes a velha se descuidava e... é tá pensando o quê? Este mesmo dedo, daquela época, hoje vitorioso, garboso, feliz, percorre a cicatriz da perninha macia, mas com dodói..
Foi o início de uma campanha vitoriosa para arrebatar o coraçãozinho de Sândi. O passo seguinte foi convidá-la para dançar uma música lenta na reunião dançante lá do bairro, dançamos e tali coisa, eu concentradíssimo no Bi Dis e ela:-Tu gostas de dançar?
Eu: -Quié?
-Jóia, adoro dançar.Uma dancinha despretensiosa, aperta um pouquinho, aperta mais um pouquinho, a mão desce e sobe, falando, sussurrando, naquela orelha quentinha.
Que tu vai fazer amanhã de manhã?
Amanhã de manhã era domingo. Eu ia dormir, claro. Mas quem queria dormir, podendo estar com Sândi em qualquer lugar, até em Povo Novo? Por isso respondi:
-Nada, não vou fazer nada, vou... ficar à toa.
O que até era verdade. Só que não esperava pela proposta. -Quer ir a missa comigo?
Missa, cara! Oito da manhã, Olha a proposta que a mina me faz! Que proposta, uma espetacular missa dominical, não era bem o que eu queria, mas era um convite dela. Então domingão, oito da manhã, lá estava eu , com o cabelo molhadinho, com a camisa fechada até o último botão, calça azul marinho, sapato lustrado, até com laço no cadarço, sentado no primeiro banco da igreja, mandando ver:
“Senhor, fazei que eu procure mais, entender do que ser entendido”
Consolar do que ser consolado
Compreender do que ser compreendido
Amaar que ser amado!
Rezando e pensando, quanta coisa um homem faz por causa de umas pernas compridas e bem diagramadas, quantos planos arquitetados, pensados, noites e dias para atingir ao alvo e meu alvo nem era a Sândi, mas naquele dia vendo aquela marquinha é claro carreguei as baterias, afinei o vocabulário e fui à caça, agora quase sem perceber a dimensão do investimento estou aqui de frente pro Padre, depois de dançar coladinho a noite toda, acordar cedinho e quando percebo estou na capela ao lado dela, sou um herói, um vitorioso, realmente um garanhão do mais alto quilate, consegui nada mais nada menos que a Sândi.
Um homem dança, como dancei,vai a missa e reza como rezei, ele come comidas orientais, ele chega ao ponto de assistir a comédias românticas, por quê? Porque ele está em campanha, ele vai ao circo, compra pipoca, ri do palhaço velho sem escutar quase nada, vai ao parque, compra maçã do amor, dá na boquinha, se lambuza todo, compra algodão doce, come, e não enche a barriga, anda na roda gigante, trem fantasma, montanha russa, quase chama o Hugo reza pra aquele troço parar, mas faz cara de feliz, paga isso e aquilo, faz cara de quem pode pagar até muito mais, embora seu cartão já tenha estourado todos os limites possíveis e imagináveis, sem contar visitas aos floristas e casas de carro mensagens, enfim é um desgaste danado, cada dia uma nova aventura para manter e causar a melhor impressão possível, é preciso estar atento a todo e qualquer movimento, um passo em falso, um não, isso eu não gosto, um cochilo e lá se foi todo o investimento.
Isso é belo,comovente, pelo ardor, pelo desejo, no afã da conquista, o homem faz os maiores sacrifícios. Tudo, para depois, não ser compreendido pelas mulheres, todo investimento para as ingratas acharem que foi pouco, não demos o máximo, com fulano poderia ser melhor, o homem está lá, há dois, três anos com ela e reclama:-Antes, tu dançavas, tu ias ver comédia romântica, trazia flores e os beijos, ahh os beijos, eram longos, molhados, ardentes a gente perdia a respiração, ficava ali coladinho, agora...
Será que ela não entende que é exatamente isso? Que é “antes”? O cara estava em campanha! Agora não está mais! Você tem fome, come, tem sede, bebe, sacia a sede. Simples, como é que elas não entendem?Exigem que o pobre coitado compre rosas que logo murcham, não entendem que tudo uma hora murcha querem ir ao circo ver um macaco magro, anão atirado pelo canhão, homem atirando facas, maçãs caríssimas, as mulheres não entendem essas coisas.

Participação no concurso de contos Petros/07 e Festival de contos Teatro Guaíra Paraná
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