A solidão é uma péssima companheira, normalmente é isto que sinto
quando viajo e não tenho alguém para compartilhar as belezas ou
tristezas de cada momento, mesmo sabendo que por vezes um retiro seja
necessário para aprofundar valores e teses pessoais ou sociais, mas
desta vez em que visitei ao Rio parece que minha alma estava mesmo
carente, necessitando de alguém para estar ao lado, dizer bobagens, rir
do quase nada, tropeçar na rua, molhar-se na poça d'água e ainda assim
abraçar-se e rir do pequeno infortúnio, são momentos, são coisas que por
vezes passam despercebidas e por outras removem coração e alma, não
fosse assim, nós humanos seríamos previsíveis e perfeitamente compreensíveis, até os poetas como seres meio desprezíveis sentem isso na carne e acho que mais profundamente na alma.
Naquele
final de tarde desci, meio sem rumo, um momento que não gosto, é
descer ao saguão do hotel, olhar à rua, voltar-se para os dois lados e
não encontrar motivo para sair por qualquer um deles, pois tanto faz,
sinto-me abandonado, um ser inexpressivo, seguir aos cães que
normalmente dirigem-se às multidões ou sem faro tirar no par ou ímpar
comigo mesmo?
O menino aproxima-se, e no Leblon é o que
mais tem, tenta vender-me um bilhete de alguma coisa, dou uns passos
rumo ao baixo Leblon, lá a vida noturna é mais expressiva e mais homens e
mulheres solitários encontram-se e reencontram-se para conversas
triviais e tratar de assuntos banais,combinar coisas que jamais farão
juntos, mas trato é trato, penso que é o local mais indicado a um poeta
cinquentenário hoje sem companhia, passear na Av. Nossa Senhora de
Copacabana aumenta ainda mias este sentimento estranho, lá desfilam
casais de apaixonados namorados, pessoas com aspecto felizes e talvez eu
hoje não esteja neste mesmo tom, por falar em tom, beber um chope no Tom
Jobim é sempre uma ótima ideia no Rio, mas não, hoje e talvez apenas
hoje, quero experimentar a boemia mais baixa, mais junto ao chão, não
desejo nada sofisticado, não quero personal atendimento, quero estar no
meio, conviver entre, levar encostadas e dar alguns safanões também,
chega de parecer chic e por dentro estar à mendigar, pensei num barzinho
com meia luz, algumas mesas com toalhas de plástico e umas cadeiras que
pela segurança é bom testar antes de sentar, andei duas ou três quadras
e o neon avermelhado em contraste com tons e contra tons mostrava-me
bem o caminho, agora já decidido, sem volta, sem jeito, sem proposta
qualquer que venha mover meu instinto de predador noturno.
A cada porta que passava algumas moças faziam-me propostas nada poéticas, elas são frias e diretas ou dá ou desiste...
Mas
eis que ao entrar numa casa carinhosamente escolhida, encontro uma moça
cantando com sonoridade diferente, ela esbanjava romantismo e
sensualidade em cada estrofe, sentei, solicitei uma dose de um doze anos
e fiquei mirando a beleza daquela música, pois jamais havia escutado
Yellow Submarine, dos Beatles, numa interpretação feminina, uma
docilidade, esta música cala fundo no meu coração, também não imaginava
que fazia parte do repertório de boates do baixo Leblon, deliciei-me
curtindo este mimo, depois parece-me que adivinhando meu repertório ela
dedilhou carinhosamente Detalhes do Rei Roberto, encostei-me mais na
cadeira, relaxei e pensei, eis aqui um bom lugar, uma jovenzinha
encostou-se a mim e perguntou simplesmente, enquanto acariciava-me,
_posso sentar?
Gesticulei com a mão em forma positiva, era
uma bela menina, cabelos soltos e ainda bem alinhados, uma pela
clarinha, não parecia-me ser carioca da gema...
_Posso pedir um energético, questionou ela...
_Pode, uma bela companhia naturalmente tem seu preço, ela sorriu e encostou bem seu corpo ao meu...
_De onde vens?
-Sou um poeta boêmio, venho da rua da solidão em busca de aconchego e carinho.
_Pois acaba de encontrar do bom e do seu melhor gosto, peça ou exija e carinho sempre terás...
A
moça começou a roçar sua perna na minha e sua mão a acariciar-me
gentilmente, confesso que meu momento carente gostou e deixou-se
acariciar, quando ela falou ao meu ouvido...
-O que desejas?
_O nome da cantora, o endereço, o quanto vale e tudo que for preciso para encontrá-la.
_Calma
seu poeta, eu também tenho receita para acabar com a solidão, depende
de você deixar, permitir que eu possa fazê-lo feliz.
A
cantora agora exagera no meu gosto e como é moda, é de praxe, dedilha
Este cara sou eu, o olhar dela parecia-me fitar com a força de um raio
x, com o esmero de uma ressonância magnética, enquanto a moça, agora já
com a perna sobre a minha, em beijos e carícias, pergunta-me.
_Vamos?
_Quanto você quer para trazer a cantora aqui?
_Noooossa é obseção?
_Não, é apenas, tesão...
POR;
Wcastanheira Em delírios de um final de tarde, recordando momentos
vividos e nunca esquecidos, ao que leva a solidão!Teria ele conseguido a
companhia da cantora? Não sei, os anjos ainda não contaram-me. Pra vcs
bjos e bjos.
A solidão é ruim demais, e piorb ainda é quando vc esta entre a multidão e se sente super sozinho..
ResponderExcluirSem dúvida nenhuma, a solidão é uma das piores coisas do Mundo.
ResponderExcluir#PostNovo! <3
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Um beeeeeijo <3