
Naquele dia a despedida de Fernandinha foi fria, quase seca, sem graça. Fiquei ali parado com um vazio por dentro, vendo a mulher da minha vida se afastar e se aproximar do carro sem ao menos olhar para trás.
Se eu ainda tiver chance ela vai olhar, antes de entrar no carro, nem que seja uma olhadinha...
Fernandinha pegou o alarme do carro, o apertou, fazendo os faróis piscarem ao destravar a porta, tudo isso em câmara lenta, minha ansiedade acelerava a ponto de tudo parecer muito lento.
É agora. Ela tem que olhar...”
Foi um angustiante pedido, um desejo. Fernandinha abriu a porta, parou alguns momentos e antes de entrar no carro, ergueu o olhar, procurou e encontrou o meu.
Reconheceu que o momento de fraqueza foi explícito, se odiando por isso, Fernandinha sentou atrás do volante e colocou as flores no banco de trás. Mas não foi rápida o bastante. entrei e sentei ao lado dela.
Fernandinha fez um esforço incrível para não sorrir da expressão que eu trazia no rosto: Esperançoso, inseguro.
Mais difícil ainda foi quando peguei as mãos de Fernandinha e as beijei de uma forma terna e doce:
- Fê, me perdoa... tudo que eu te disse aquele dia na piscina é verdade... acredita em mim... eu não dormi com outra, eu juro que não aconteceu nada... eu te amo... e sou seu, de corpo e alma...
Meus lábios encostaram nos dela, e por um instante esquecemos de tudo e apenas nos entregamos naquele beijo tão desejado, nossas mãos aflitas buscaram uma à outra e docemente entrelaçaram-se, buscaram de algum modo um bom lugar para alojarem-se.
Foi a primeira vez que disse que a amava, para Fernandinha seria tudo perfeito, se não fosse um pequeno detalhe: não conseguia parar de pensar num possível caso meu com a outra...
Percebi que Fernandinha correspondeu ao seu beijo com a saudade, e por um momento pareceu que estava tudo certo. Mas de repente ela parou, ficou estática, e depois se afastou sem olhar, nem dizer nada. Apenas se virou para frente e cobriu o rosto com as mãos, apoio a cabeçã ao volante.
Durante alguns segundos apenas tentava acalmar a respiração. E então ela tirou as mãos do rosto e olhou intensamente, calmamente para mim e falou.
_ Eu quero que você entenda que se você me beijar, me tocar, me olhar desse jeito, eu vou ceder e corresponder... eu não consigo evitar, porque sou louca por você...
Mas o problema é que eu não consigo acreditar que não aconteceu nada, nem parar de pensar em você com aquela mulher...
Fernandinha começou a soluçar profundamente, tentei acalmá-la envolvendo-a num abraço carinhoso e protetor, querendo poder voltar no tempo e evitar tanto sofrimento. Era de cortar o coração, ela chorando daquele jeito...
Acariciei os cabelos dela, beijei sua testa e o rosto encharcado de lágrimas, enxugando-as com os lábios... e então a boca de Fernanda encontrou à minha e novamente coladas num beijo, as línguas se procurando, provando se devorando...
Foi quando o sino da igreja voltou a tocar anunciando o fim da missa e do nosso encontro.
Fernandinha ajeitou os cabelos, enxugou as lágrimas e disse de forma bem humorada, mas com um sorriso meio triste:
- Acho que por hoje chega, né? Tiau, se o destino permitir, nos veremos em outra ocasião
De uma maneira fria, mas com um olhar de quero mais, abriu a porta do carro, entendi que deveria descer, meu tempo havia terminado ali.
Uma mulher de cabelos loiros, forte, marcada pela malhação, aproximou-se, abriu a porta e entrou, sem pedir licença, sem piedade do meu aspecto de perdedor, Fernandinha pareceu-me sem graça, triste, mas deveria ir.
Pensei no pé de valsa, pobre marido, um perdedor comigo para uma loira malhada e quem sabe, safada, mas com a receita quase certa para entreter Fernandinha.
Por: Wcastanheira Revivendo a antiga série, o conto não pode parar, meu amigo Gamba, um exigente leitor e algumas pessoas amigas, perguntam, _E a Fernandinha por onde anda? Contentes agora? Dei um tempo e a perdi para uma loira malhada, de fortes contornos, o que farei? Não sei, ainda não pensei, o tempo dirá, apontará um caminho. Enquanto isto, pra vcs bjos e bjos.